O espetáculo “UBU: o que é bom tem que continuar” fez sua apresentação no final da tarde de sábado (11). A equipe que veio de Natal, Rio Grande do Norte, e juntou três grupos de teatro – Clowns de Shakespeare, Facetas e Asavessa – para encenar a história que retrata as peripécias de uma família em sua incansável busca pelo poder.
A apresentação de rua relata a história do rei Ubu, que vem fugido de um golpe de Estado que deu na Polônia e foi expulso de lá até chegar a um país fictício, a “Embustônia”, na América Latina. O teatro tem tudo a ver com as vivências nos países da América do Sul, com cenários, às vezes, de golpes políticos. Dessa forma, a obra dialoga com a história do nosso povo, história de colonização e arrebatamento dos povos.
A peça começa introduzindo os personagens pai e mãe ubu, de Alfred Jerry, escrita em 1888, deslocando esses personagens para uma outra narrativa, o “país/lugar-nenhum” com ares latino-americanos, nesse novo ambiente, em meio a influencers e cachos de bananas, pai ubu e mãe ubu continuam sua saga pelo poder.
Assim como na obra original, a sátira política está presente no trabalho como um todo, dialogando diretamente com o público, trazendo à cena temas como injustiças sociais, manipulação de informação e um olhar agudo e crítico com relação às figuras de poder e os projetos políticos perpetuados. Com as indagações políticas, os artistas recitam frases de grandes pensadores, de forma humorada. As frases citadas são de Zygmunt Bauman, Jean Paul Sartre e Simone de Beauvoir, mas fazendo graça até Narcisa Tamborindeguy entra na lista.
Rodrigo Bico, ator do grupo de teatro Facetas, ressalta que é uma experiência nova estar no Festival América do Sul. Rodrigo já esteve no Campão e realça a alegria de estar em Corumbá na fronteira e se apresentar para pessoas de outros países.
“Ontem eu vi uma banda do Chile, um grupo da Bolívia com um elenco da Colômbia, da Argentina, essa mistura traz esse espírito do teatro de rua, energia festiva brincante de rua e o espetáculo trata um pouco disso”, frisa.
Ele ainda ressalta o objeto da peça teatral. “Estamos aqui para refletir sobre a importância da arte, e como o trabalho pode influenciar na reflexão das pessoas e que as pessoas levem isso para o seu cotidiano”.
Fronteira Fracasso
O grupo também apresentou no Festival o teatro Fronteira Fracasso. Para criar o espetáculo, foi feita uma pesquisa numa fronteira entre a Bolívia e o Brasil. A obra fala da integração entre os países vizinhos.
O espetáculo foi criado em parceria com o Grupo de Teatro Los Andes, de Cobija da Bolívia, que faz fronteira com o Brasileia, separados apenas por uma ponte que se chama Ponte da Amizade.
Para a atriz Paula Queiroz, as fronteiras não passam de criações humanas imaginárias. “O que é uma fronteira? É uma divisa que a gente criou. Mas que tipo de ligações a gente pode estabelecer com os nossos países vizinhos?”, indaga.
“Então vir para Corumbá é emocionante pra gente, porque a gente tá falando de fronteira num lugar de fronteira. E como é fácil escutar outra língua e se sentir ao mesmo tempo em casa, por mais que nós somos de países diferentes, eu sou do Brasil, eles da Bolívia, somos latino-americanos e isso nos une”, ressalta.
Bel Manvailer, Ascom FAS 2023
Fotos: Elias Campos
Galeria de imagens disponível no site: https://www.festivalamericadosul.ms.gov.br/teatro-ubu-o-que-e-bom-tem-que-continuar/