Era para mais uma noite normal de aula para os estudantes da escola estadual Leme do Prado, em Ladário, se não fosse a itinerância das atividades do Fasp – Festival América do Sul Pantanal 2022. A quebra no cotidiano da unidade escolar da pacata cidade do interior foi causada pela arte trazida com o espetáculo “Delírios – Traços Dançantes em Lídia Baís”.
“Foi muito bom, eu gostei. E mais ainda porque não vim preparada para o de todo dia, a sala de aula e, quando cheguei, vi toda essa estrutura. Me pegou de surpresa, porém estou muito feliz, assim como todos de minha sala”, disse Tatiane Gomes, estudante do EJA 4ª fase do Ensino Médio.
A estrutura montada na parte frontal da escola com palco, iluminação, elemento cênico e iluminação já mostrava que algo especial aconteceria naquela noite de sexta-feira, 27 de maio. Logo, as cadeiras das salas foram levadas pelos próprios estudantes ao pátio e, após alguns momentos, cheiros, música e luzes invadiram o local até a presença de uma figura feminina ganhar o palco.
Com uma expressão corporal admirável, a atriz, bailarina e artista circense Társila Bonelli, mostrou todo o turbilhão que foi a vida da maior artista plástica do Estado de Mato Grosso do Sul, numa época quando quem ousasse ser à frente de seu tempo colecionava episódios nada agradáveis.
“A Lídia foi uma mulher muito intensa e atemporal. O mais maravilhoso é essa incógnita que todo mundo tem: o que foi a Lídia? Foi louca, foi santa? Foi um super desafio porque olhar pinceladas, tintas, cores, riscos e pensar como trazer isso para o corpo na mesma intenção do que a Lídia quis dizer foi desafiador”, comentou Társila Banelli, que deu vida a esse ícone da cultura sul-mato-grossense por meio da dança contemporânea.
A professora Beatriz Paes Gomes se envolveu tanto com o espetáculo que, ao final, não fez cerimônia e foi trocar informações com a bailarina sobre muitos trechos da apresentação que fez todos não desgrudarem os olhos do palco onde uma estrutura metálica serviu de suporte para muitos desenhos coreográficos.
“A gente fica imaginando porque além da expressão corporal dela tem a música. Daí fiquei pensando: Será que ela morreu? Será que passou um trem atrás? Por que uma imagem de Nossa Senhora Aparecida?, então eu queria confirmar e descobri muito mais. Eu pesquisei a vida da Lídia, mas não havia encontrado que ela ia ser irmã (religiosa), fazer caridade. A arte é isso: estimular para gente saber mais”, avaliou a educadora.
A emoção atingiu até quem no dia-a-dia tem que ser mais dura, cobrar a disciplina dos estudantes. Tânia Mara Cavalcante, recepcionista da escola estadual Leme do Prado, se encantou com o espetáculo e ansiosa para compartilhar tudo o que havia acabado de assistir.
“Nunca imaginei receber um espetáculo como esse na escola onde trabalho. Isso só vem enriquecer. Vim trabalhar e vi esse espetáculo maravilhoso. É uma artista maravilhosa, uma expressão corporal linda, estou muito feliz de ter participado na plateia, estou emocionado e quero chegar em casa para contar essa coisa boa que vivi hoje aqui”, afirmou.
Até chegar à finalização, o espetáculo Delírios – Traços Dançantes em Lídia Baís levou um ano entre muitas pesquisas e experimentações para emocionar e levar o público para o mundo da artista plástica que fez nome na arte do Estado.
“É um espetáculo que é para todo mundo sair daqui com várias sensações porque a dança não precisa ser visual apenas. Quanto mais sentidos, elementos a sente trazer, mais a gerente consegue transmitir pois os momentos de transe, de criação da Lídia não podia ficar apenas no visual era precisa chegar nas pessoas de alguma forma”, disse Társila ao destacar ainda que Lídia vive intensamente em nossos dias atuais.
“Lídia somos nós, muitas questões que levantou, hoje em dia, ainda nos incomoda, reverbera. Ser mulher, ser artista. Viver em nossa sociedade e não poder ser o que a gente quer ser, não tem como não ser Lídia porque, em algum momento lago que ela viveu, está dentro de nós pronto para estourar”, apontou.
Texto: Lívia Gaertner
Foto: Álvaro Herculano