Às 22h45, o Criolo do rap subiu ao palco para fazer samba, e pouco importava os graus que faziam em Corumbá. O Palco Integração, na Praça General Ponce, fazia jus ao nome, unindo artista e público. Num show intimista, Criolo parecia cantar para cada um, individualmente.
As três primeiras canções foram o suficiente para conquistar o afeto de quem não conhecia o rapper, mas saberia sentir as músicas – afinal, era samba na terra do Carnaval – e quem aprendeu entre o ritmo e a poesia que “as pessoas não são más, elas só estão perdidas”.
“Nas águas do mar eu vou me benzer, vou me banhar. Nas águas do mar eu vou pedir perdão, pra abençoar”, foi o que abriu o show e “casou” perfeitamente com a energia de Corumbá, às margens do Rio Paraguai.
Em seguida veio “Linha de Frente”, e “Desde que o samba é samba”, de Caetano e Gil, para num respiro de poesia, Criolo esbanjar simpatia ao cumprimentar o público.
“Esse festival é maravilhoso, é um prazer estar aqui na cidade de vocês. A gente pede licença com todo o respeito e com todo o carinho pra cantar esses sambas que eu amo, eu amo tanto rap. Rap é a minha escola, é a minha vida e eu amo tanto samba. A gente que nasce em favela ama rap, ama samba, ama funk, ama forró. A gente ama tudo que é a música do povo”, diz.
No palco, além de agradecer aos fãs por estarem ali pelo samba, Criolo ainda deixou um abraço a todos os artistas e mestres da cidade, em especial aos professores. “Esse show é dedicado a cada professor e professora dessa cidade, vamos combinar, fechou? É uma coisa singela, simbólica, mas importante. Tem muita coisa pra acontecer, tem muita coisa pra acontecer, tem muita mudança pra acontecer”, mandou o músico, que de quebra emendou; “eu não quero viver assim, mastigar desilusão / Este abismo social requer atenção / Foco, força e fé, já falou meu irmão / Meninos mimados não podem reger a nação”, que logo ganhou coro na Praça.
Criolo sempre fez parte dos artistas que mandam a real e levam conscientização aos palcos por onde passam. Em Corumbá, não foi diferente: direitos humanos e meio ambiente não ficaram de fora e, depois das palmas, o músico cantou que, se depender dele, “o samba agoniza, mas não morre”.
Entre o público, um senhor chamava a atenção. Em pé, mesmo tendo cadeiras à disposição na área voltada para pessoas idosas e com deficiência ou mobilidade reduzida, seu Carlos Roberto Vieira Torres só mudava de posição para trocar o celular de mão, quando o braço cansava.
Assim como Criolo, ele também estava ao vivo em uma live para os seus amigos do Facebook. “Tudo o que tem música ao vivo eu gravo no Facebook e jogo ao vivo. Tenho seguidores”, explica.
O aposentado confesso que não conhecia muito Criolo, mas estava impressionado. “Ele tem umas músicas bem filosóficas, que mexem com a pessoa, né? Eu vou tentar seguir mais na internet, estou gostando muito”, conta.
Criolo relembrou que esteve em Corumbá em 2018, e que não pode ficar tanto tempo assim sem ser convidado.
A medida em que o público se acalorava diante do samba, o artista dizia que estava louco pra mandar um rap, e não se aguentou. A plateia agradeceu e foi à loucura ao ver e ouvir “Ainda há tempo”.
Fotógrafo, Leonardo Carmona confessa que ama as duas “versões” de Criolo. “Mas como eu acabei de ver o samba, já sentia saudades do rap. “Tanto que teve uma hora que ele puxou ‘Ainda há tempo’, aí eu fiquei pensando, se ele puxa, ‘Grajauex’ depois, assim, na sequência, meu Deus”…
Criolo deixou fãs de rap e de samba encantados e uniu um só coro quem canta de todo o coração:
“Antes de me despedir
Deixo ao sambista mais novo O meu pedido final
Não deixe o samba morrer
Não deixe o samba acabar
O morro foi feito de samba
De samba para gente sambar”.
Paula Maciulevicius, Ascom FAS 2023
Fotos: Clóvis Neto
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