Lídia Baís é um dos ícones das artes plásticas de Mato Grosso do Sul. Sua relação com as vanguardas artísticas do início do século 20 a colocam entre um dos nomes mais inventivos da arte brasileira, que poderia facilmente figurar junto de pintoras modernistas como Anita Malfatti e Tarsila do Amaral. Ao homenagear o centenário da Semana de Arte Moderna brasileira, o nome de Lídia não poderia ficar de fora.
Quem participou do 16º Festival América do Sul Pantanal (FASP) teve a oportunidade de conferir reproduções e originais das obras de Lídia Baís, mas também pode se aprofundar em outro traço de sua criação: a música. Na palestra e performance musical intitulada “Lídia Baís e a Música”, o maestro Eduardo Martinelli e o pianista Júlio César Figueiredo executaram obras que estão sendo recuperadas.
O trabalho se iniciou em 2018, quando o Sesc promoveu uma comemoração dos 100 anos da Morada dos Baís, em Campo Grande. “Eu pensei em trabalhar em cima de músicas relacionadas à Lídia, mas conversando com o Carlos Luz, responsável pela memória fonográfica, ele comentou que o Museu da Imagem e do Som tinha alguns registros de músicas gravadas pela própria artista”, comenta. Ao chegar ao material, no entanto, percebeu-se que estava inaudível.
“Eu fui fazer a recuperação dessas músicas e nós orquestramos, fazendo uma adaptação de duas peças para esse concerto. Ainda assim, eu fiquei preocupado com a possível perda de outros materiais com as músicas e passei a me dedicar a essa recuperação”, explica o maestro. Martinelli, desde então, vem se dedicando a recuperar as composições por meio de recursos de áudio e transpô-las para partituras.
“Assim, elas podem ser conservadas e registradas, porque legalmente, hoje, elas não existem”. Até o momento, 10 composições foram recuperadas de um total de cerca de 60. “É um processo lento, a gente demora em média um mês para recuperar cada música”, explica.
Sobre as músicas, Martinelli afirma que elas ressaltam a urgência criativa de Lídia. Pianista e compositora autodidata, as peças são simples, criadas provavelmente a partir dos estudos que a artista fazia. “Do ponto de vista musical e artístico, não podemos dizer que se tratam de obras ambiciosas. Mas elas retratam a inquietação da artista, sobretudo porque um pianista que se encontra no estágio musical da Lígia, ainda demoraria algum tempo até começar a compor”, pontua.
Durante o encontro, realizado no Pavilhão das Artes, na Praça Generoso Ponce, além de apresentar algumas das peças e conversar com os participantes sobre os rumos da obra da Lídia, Martinelli também fez a entrega simbólica de “Lídia Baís e a Música” à diretora do Museu da Imagem e do Som (MIS), Marinete Pinheiro. No material, encontram-se as peças transcritas até o momento.
Texto: Thiago Andrade – Assessoria FASP
Fotos: Marithê do Céu e Thiago Andrade