Com um leve resfriado e o incômodo dos pernilongos ao cair da tarde na beira do Rio Paraguai, a bailarina com formação também em história Maria Eugênia (Alves Almeida) Tita, 35, encantou seleto público que assistiu ao seu espetáculo de dança Planta do Pé, no palco do Mirante do Porto-Geral, no terceiro dia do Festival América do Sul. O evento está sendo realizado pelo Governo de Mato Grosso do Sul em Corumbá e encerra-se neste domingo (29).
Unindo vários trabalhos e coreografias que fez ao longo de carreira e pesquisa, com o pai António Nóbrega (dentre eles Naturalmente: Teoria e Jogo de uma Dança Brasileira e Pai) e parceiros, Maria Eugênia compartilha encenações e reflexões sobre as raízes culturais. Ela apresentou parte do seu solo Planta do Pé, onde a fusão de danças brasileiras às referências artísticas contemporâneas passeia por figuras mascaradas, narrativas históricas e ilustram sentimentos.
“É uma tentativa de mostrar um pouco das possibilidades cênicas que essas danças populares apresentam, o que podemos criar a partir dessa movimentação, dessas técnicas e elementos artísticos, assim como refletir sobre o que ainda as mantém à margem de nossa sociedade”, diz a bailarina, que foi “salva” contra os pernilongos por alguém da plateia que por acaso estava munida de um bastão de repelente.
Danças marginalizadas
Conduzida pelos pais, Maria Eugênia começou a se familiarizar aos sete anos com a danças populares brasileiras. Aos nove, passou a se apresentar em espetáculos de seu pai. A convite da curadoria de dança do Centro Cultural Banco do Brasil criou o espetáculo solo Casa das Miudezas. Em 2008 fundou ao lado de Marina Abib a Companhia Soma e em 2014, a convite do Festival Internacional de Dança de Recife, criou a “aula-espetáculo” Planta Do Pé.
Ela resume a apresentação que ilustrou a programação de sexta-feira do Fasp 2022 como “um pouco de pé, um pouco de planta, um pouco de fala, um pouco de dança”, ora no solo, ora no violão. Neste espetáculo, Maria Eugenia demonstra danças de seu repertório construído ao longo de 12 anos e compartilha com delicadeza e bom humor uma reflexão sobre as singelezas, preciosidades e o legado oferecido pelas manifestações tradicionais brasileiras.
Cuidando de todos os detalhes do espetáculo no palco – do som, coreografias e elementos com os quais dialoga na leveza e técnica apurada -, a bailarina paulista se interage com o público, formado, em sua maioria, por professores e alunos de dança do Instituto Moinho Cultural Latino-Americano, que funciona há 18 anos no Porto-Geral de Corumbá. Por alguns momentos, a teatralidade sai do palco para dialogar com as pessoas em gestos e olhares.
“Adorei participar do festival, apresentar-se em palco aberto é um desafio, mas ao mesmo tempo muito gosto”, diz Maria Eugênia. “Exige uma energia a mais, mas quando o público se conecta é muito bom, gratificante.”
Texto: Silvio Andrade
Foto: Bruno Rezende