Sim, elas estão presentes no Festival América do Sul Pantanal! A Exposição Elas em Corumbá – Mulheres Indígenas Artistas, que acontece durante o Festival na Galeria Pantaneura da Zona, traz a obra em telas das artistas indígenas de Mato Grosso do sul.
Uma delas é Benilda Kadwéu, que traz em suas obras o colorido e o grafismo de sua etnia. “Com certeza, expor no Festival América do Sul é muito gratificante, pois a gente quer muito ter a participação nos editais, aumentar mais ainda as vagas porque somos muitos e poucos contemplados. Algumas artistas vieram a convite da diretora da galeria, a Mariana Arndt. A gente está realizada neste dia por conta desse espaço que ela tem nos dado. A minha obra representa algumas mulheres da minha comunidade, do povo Kadiwéu da aldeia Campina, que precisava muito dessa visibilidade. Essa exposição veio para cá e conseguimos trazer as obras que representam o colorido e o grafismo Kadiwéu representado por mulheres. Às vezes, a gente usa tintas naturais, tinta acrilex, tinta a óleo, vai muito de cada artista”.
Aline de Souza da Silva, do povo Kaiowá-Guarani, trouxe cinco obras, duas delas são bem grandes, de 1,2 metro por 90 centímetros. As outras são menores. “Tem uma que ela representa a simbologia da nossa cosmologia, porque dentro da nossa cosmologia indígena Kaiowá, os nossos anciãos sempre dizem que o que é mais próximo que seria dessa maravilha que foi a criação do mundo seria o ventre de uma mulher. Então, o ensinamento que os nossos mais velhos sempre trazem para a gente é que é como o ventre de uma mulher, tudo o que a gente precisa a terra nos dá, mas também nada sai da atmosfera. Esse é o mundo maravilhoso que Tupã deixou pra gente”.
A indígena fala ainda sobre a importância da mulher na comunidade. “Nosso povo é muito matriarcal, onde sempre as mais velhas, as anciãs, que indicam os caminhos, e sempre foi assim. Claro que de uns tempos para cá, com a intervenção do patriarcal, do colonialismo, do evangelismo, isso tem mudado e tem sido triste para a gente e complicado de lidar. Resgatando essa nossa história, tentei colocar isso numa tela e também o grafismo do acolhimento. Todas as minhas obras têm um sentido como um todo, mas também sempre carregam um grafismo”, a
Lucineide Clementino, a artista Sol Terena, diz que expor numa galeria durante o Festival América do Sul é uma grande oportunidade. “Ficamos muito felizes pela oportunidade de expor nossas telas. Faço parte de um coletivo chamado Grafismo indígena, onde trabalhamos com artes e dizeres indígenas estampados em camisetas também. Hoje, nós temos a oportunidade de trazer o nosso trabalho para o Festival. Estamos sendo muito bem recebidos e estou muito feliz de participar. Os meus trabalhos são as pinturas corporais que a gente traz para a tela, com pigmentos naturais, que é urucum e jenipapo. Elas têm um significado para toda a população indígena de fé, de proteção, são pinturas corporais que usamos nos momentos de rituais, de dança, de festividades, que nós passamos para a tela”.
Amireli, Guarani-Kaiowá e Terena, diz que o Festival representa uma oportunidade muito rica de mostrar a cultura e o potencial das artistas enquanto indígenas. “É uma oportunidade de desmistificar isso de as pessoas acharem que os indígenas estão só nas aldeias, mata adentro. Nós indígenas também estamos ocupando o meio artístico, em todos os meios que nós possamos ocupar. Eu, por exemplo, sou formada em Direito e circulo nesse movimento artístico onde nós levamos nossos grafismos seja na pele, nas roupas, bolsas, ecobags que nós produzimos. O nosso artesanato precisa ser valorizado, porque as pessoas têm essa ideia de que ‘ah, é coisa de índio, eles vão vender barato’. Não, nosso artesanato tem valor, ele é um instrumento sagrado para nós. Nós os Guarani-Kaiowá temos toda uma simbologia por trás dos grafismos, nós temos de onde ele vem, qual é a história dele, vários são os grafismos que nós colocamos, nas roupas, por exemplo, nós usamos os grafismos que representam a proteção e o respeito, principalmente”.
Karina Lima, Ascom FAZ 2023