“Lá vai uma chalana/bem longe se vai/navegando no remanso/do rio Paraguai – Chalana – música de Mário Zan
Campo Grande (MS) – Cantado em verso e prosa, o Rio Paraguai é o principal homenageado do Festival América do Sul 2019, que começa oficialmente no próximo dia 14 de novembro, em Corumbá. A música “Chalana”, por exemplo, foi composta por um ítalo-americano, Mário Zan, nos anos 1943, quando visitava Corumbá. Olhando o rio da janela do seu hotel, o acordeonista não resistiu a tamanha beleza e escreveu ali mesmo uma das canções mais emblemáticas de Mato Grosso do Sul, cujo principal intérprete é Almir Sater. Segundo o músico, Chalana foi a primeira fusão da música brasileira com a música paraguaia. “É uma síntese histórica”, afirma Sater, muitas vezes confundido como o autor da canção. “Quem me dera! ”, brinca.
O rio não nasce um rio. O Paraguai, por exemplo, brota de pequenas e cristalinas fontes em meio a matas e fazendas. Vai juntando outras águas e, quando se vê, lá está ele, majestoso a caminho do mar, ao sabor da correnteza (ora lentamente, ora apressado). Um rio caudaloso, pleno de vida, dentro e fora d’água.
Com histórias de coragem, de devoção, de riquezas e de guerra, o rio Paraguai nasce no município de Alto Paraguai, região central de Mato Grosso, e desce, rumo ao sul, passando por Cáceres. O Paraguai é a caixa d’água do Pantanal e quando chega ao Mato Grosso do Sul, delimita a fronteira com a Bolívia em um trecho curto e também a divisa entre os dois estados. Corta o município de Corumbá e volta a marcar fronteira com a Bolívia, em Porto Bush.
Palco de imigração e desenvolvimento
Dos grandes rios brasileiros (ele é o quinto maior rio da América do Sul) o rio Paraguai percorre terras do Brasil, da Bolívia, do Paraguai e da Argentina. Na língua guarani, significa “grande rio”, ou “rio que dá nascimento ao mar”. No país que lhe empresta o nome, ele tem o privilégio de banhar a capital: Assunção. O rio atravessa, de norte a sul, o centro da nação paraguaia, dividindo o país em duas partes: o Paraguai ocidental, região seca e plana, pouco habitada, e o Paraguai oriental, onde há colinas cheias de árvores e pastagens planas. Ao desaguar no rio Paraná, o rio Paraguai também o divide em duas partes, a alta, chamada brasileira, e a baixa, argentina.
Importante lembrar que os índios guaranis viviam entre os rios Paraguai e Paraná, antes da chegada dos conquistadores espanhóis. A princípio, os colonizadores europeus interessaram-se pelo Paraguai apenas como região de passagem. Partindo do oceano Atlântico, eles entraram pelo rio da Prata e, através dos rios Paraná, Paraguai e de outras vias fluviais secundárias, chegaram ao Peru. Às margens do rio Paraguai, em 1537, os espanhóis criaram a atual capital paraguaia.
Além de ser responsável pelo impulso econômico na região do Brasil Central, a navegação no Rio Paraguai possibilitou a ligação com o Rio de Janeiro, e com os países platinos, através do porto de Corumbá, que se tornou o mais movimentado dos portos dessa época. O rio Paraguai também trouxe imigrantes, paraguaios, bolivianos, italianos, portugueses e posteriormente sírio-libaneses, que tiveram participação direta na constituição da cidade.
A lenta ocupação do extremo Oeste brasileiro encontra-se registrada, através de uma série de vestígios arqueológicos e históricos, às margens daquele que foi o caminho natural de penetração humana na região: o rio Paraguai. Atualmente o rio, com suas curvas e paisagens exóticas, atrai turistas de todo o mundo. Pescadores esportivos e apreciadores da natureza passeiam pelas suas águas em luxuosos barcos, dando a ele uma nova característica e importante papel: fomentar novamente a economia da região, desta vez com o turismo ecológico. Até o rio se reinventa.
Texto: Theresa Hilcar
Fotos: Chico Ribeiro/divulgação