O Festival América do Sul Pantanal viverá um momento especial e ainda inédito no dia 25 de maio, sexta-feira, às 16h30, na Concha Acústica do Porto Geral em Corumbá. O Festival Curimba vai reunir representantes das religiões de matrizes africanas em um encontro que deve atrair a atenção de religiosos, seguidores e inclusive pesquisadores de todo o País. Corumbá soma hoje cerca de 400 terreiros ou casas de umbanda e candomblé que estarão representados por pelo menos 40 deles.
“O Festival Curimba é o resgate do que existe de mais genuíno nas religiões de matrizes africanas e afrodescendentes, destacando a riqueza de uma tradição cultural e popular, e uma forma também de combater a intolerância que muitas vezes surge por falta de conhecimento”, destaca o secretário da Cultura e Cidadania de Mato Grosso do Sul, Athayde Nery. “O FASP cumpre assim seu papel de agregar as matrizes culturais mais influentes do Brasil, como a cultura indígena, a portuguesa, a afrodescendente e a espanhola”, acrescenta.
Uma amostra do que será o Festival Curimba foi dada neste sábado, 12 de maio, na Praça da Independência, em Corumbá, durante a celebração dos 130 anos da Lei Áurea (13 de maio de 1888) no evento “Contribuição da Cultura Africana”, conduzido pela Prefeitura de Corumbá e Secretaria Especial de Cidadania e Direitos Humanos, por meio da Coordenadoria de Políticas Públicas para a Promoção da Igualdade Racial e Fundação da Cultura e do Patrimônio Histórico de Corumbá. O 13 de maio passou a ser celebrado como o “Dia Nacional de Luta contra o Racismo”.
“Esse Encontro das Religiões de Matrizes Africanas foi uma preparação daquilo que vamos apresentar no Festival Curimba”, afirmou o diretor-presidente da Fundação de Cultura e do Patrimônio Histórico de Corumbá, Joilson da Silva Cruz. “Reunimos terreiros da umbanda e do candomblé, trazendo essas vertentes para dentro do Festival, com o resgate da cultura mais esquecida”, acrescentou.
O Festival Curimba, segundo Joilson, é um grande passo para a difusão da cultura e religiosidade africana e afrodescendente. “O Festival Curimba vem para valorizar e mostrar que essa cultura está viva e presente todos os dias”, enfatizou. “A maioria dos terreiros abraçou a ideia e muita gente de fora, inclusive pesquisadores, vêm para esse evento com o intuito de realizar trabalhos de pesquisa”.
O Festival Curimba conta com a participação decisiva do presidente da Seccional Intermunicipal da Federação de Cultos Afros e Ameríndios em Corumbá (Sinfecan), Hamilton da Costa Gama, conhecido como Pai Hamilton de Xangô, e de seu filho e braço direito Tel Cosme de Xangô. O babalorixá dirige há 35 anos um dos mais respeitados terreiros de Corumbá, a Tenda Espírita São José, que tem como mentor espiritual a entidade Cacique Pena Branca. O terreiro soma mais de 300 filhos de santo formados e conta hoje com cerca de 70 filhos de santo praticantes.
“O Festival Curimba serve também para mostrar para o povo que a umbanda tem uma cultura, tem um fundamento, que não está embasada só na religiosidade, tem uma parte cultural e artística do ensinamento afrodescendente que pode ser levado para colégios, para as crianças, para acabar com esse tabu, com o preconceito”, afirma Pai Hamilton de Xangô.
A Tenda Espírita São José é legalmente registrada. “Fazemos batismo, casamentos, formação de pais de santos, como uma escola, todos recebem certificados, para que possam abrir suas casas em qualquer parte do país, com independência para expandir”, explica o pai de santo (babalorixá).
Será o terceiro Festival Curimba em Corumbá, também c0nhecido como “festival do atabaque”, o instrumento de percussão (um bumbo em formato de cone tocado com as mãos) que dita o ritmo dos cânticos e louvores dos rituais dos terreiros. “No primeiro festival competiram 12 terreiros, mas no ano passado realizamos apenas o encontro de atabaques, sem competição, como uma apresentação, e assim será no FASP”, acentuou Tel Cosme de Xangô, babalorixá da Tenda Espírita São José.
“Realizar o Festival Curimba no Festival América do Sul Pantanal é uma vitória imensa, não só para nossa casa, mas por representarmos cerca de 400 terreiros de toda Corumbá e pelo menos 30 terreiros de Ladário”, destacou o babalorixá.
De acordo com o Tel Cosme de Xangô, também foi importante para o Festival Curimba chegar oficialmente ao FASP 2018 o apoio do subsecretário Leonardo de Oliveira Melo, que conduz a Subsecretaria de Políticas Públicas para a Promoção da Igualdade Racial e Cidadania – SUBPIRC, vinculada à estrutura da Secretaria de Estado de Cultura e Cidadania (SECC).
Contra o Preconceito
Quebrar paradigmas e preconceitos que cercam e bloqueiam o conhecimento em torno das religiões de matrizes africanas e afrodescendentes é uma luta contínua, segundo o babalorixá Clemilson Pereira Medina, responsável pelo Instituto Afro Religioso e Cultural Axélakun, do candomblé. “Este ano o Festival América do Sul Pantanal está muito mais aberto à cultura e religiosidade africana e afrodescendente”, constata o pai de santo, conhecido no candomblé como babalorixá Zazelakun. “Zumbi é nosso rei, que lutou e deu a vida pela liberdade, mas Dia de Zumbi é todo dia, todo dia nasce e morre um negro, todo dia nasce e morre um branco”, acrescenta.
Graduado em Direito Penal e Administrativo, mestrando em Direito Internacional, o advogado Hamilton da Costa Gama, babalorixá líder da Tenda Espírita São José, concorda que o conhecimento sobre as religiões de matrizes afros, difundido ainda mais no Festival Curimba, ajuda a quebrar o preconceito. “Recebemos e formamos em nossos terreiros advogados, médicos, engenheiros, universitários, é um espaço muito bem frequentado por famílias”, destaca o babalorixá. “Frequentemente somos convidados para proferir palestras em colégios e faculdades”, conclui.
O Festival América do Sul Pantanal (FASP 2018), de 24 a 27 de maio em Corumbá, Ladário, Puerto Quijarro, Puerto Suarez e El Carmen Rivero Torrez, é uma realização do Governo do Estado e da Prefeitura de Corumbá.