Corumbá (MS) – Trazendo suas raízes e essências, o graffiti neste 15º Festival América do Sul vem representado pela chilena Anis e a brasileira Crica Monteiro. A arte, que possui características essencialmente urbanas, está sendo construída no Moinho Cultural e no Espaço de Dança de Corumbá, respectivamente. Realizado com investimento público da Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul e patrocínio da Energisa, Vale, Caixa Econômica Federal e Governo Federal, o 15º Festival América do Sul Pantanal (Fasp) acontece entre os dias 14 e 17 de novembro.
Aos 31 anos, Anis conta que pinta desde os 12 e que o convite para vir a Corumbá foi algo que a deixou muito feliz por sair do eixo Rio-São Paulo. “Aqui vocês tem belezas incríveis e quando terminar de pintar quero andar pela cidade e pegar um barco e conhecer o rio e o Pantanal”, diz.
Sobre sua pintura, Anis diz que viu que o Moinhho era um espaço que trabalhava com muitas crianças então quis que sua pintura representasse essa fase, mesclando com a cultura de seu país. “Quis pintar algo para as crianças e também para despertar a criança que há em nós”.
A diretora presidente Moinho Cultural , Márcia Rolan conta que o espaço nasceu com o evento e receber uma pintura como legado é algo que a deixa muito feliz. “A gente sempre sonhou em ter um painel que unisse seres da natureza com seres nativos. Nosso espetáculo este ano é sobre isso. A criação do pantanal, vangloriando os seres da natureza e os seres nativos e ela pintou nosso espetáculo”.
Há 15 anos em Corumbá, Márcia conta que o Moinho Cultural tende 360 crianças e adolescentes e que a arte feita pela Anis representa a essência do local. “É de uma beleza, uma plasticidade, e uma pureza que fala completamente com os nossos participantes. Nós já tivemos outras experiências , mas que foi de fora pra dentro. A Anis caminhou pelo Moinho e colocou o que eu realmente representa esse espaço”.
Ressaltando a beleza negra em suas pinturas, a paulista Crica Monteiro afirma que a inspiração da sua arte vem da sua história e do incômodo de ver sempre o mais do mesmo. “Minha mãe é negra, por isso penso na questão da minha ancestralidade. As artes acadêmicas, que é essa coisa da Europa, ‘glamourizando’ sempre um tipo de pessoa me incomodou muito. Sentia falta de arte negra”.
Evidenciando as mulheres negras, com destaques em seus olhos, Crica fala que sua arte acaba refletindo na visão das próprias mulheres negras em relação a estereótipos. “A mulher negra é sempre colocada em um patamar de preterida, por isso a ideia de fazer personagens para exaltar a beleza das mulheres negras, colocá-las em situações mais lúdicas faz com que elas percebam seu poder e beleza. Eu ouvi de muitas meninas de como o meu trabalho as fizeram pensar em sua auto-estima delas, e é esse também meu objetivo”.
Com influência de grafiteiros franceses e do Grupo Opni, que também faz personagens negros, Crica fala da importância de se acontecer festivais como este e que o graffiti que decidiu fazer no Espaço de Dança de Corumbá foi de uma mulher com dreads para preservar a questão ancestral. “É muito importante estar aqui, principalmente que aqui é fronteira então te um gosto muito especial pela representatividade e a integração de exaltar os artistas nacionais e os sul-americanos. Acreditar que mesmo em 2019 e possível fazer um festival deste tamanho me dá um gás. Em 2013 eu passei por aqui para iniciar um sonho de fazer meu primeiro mochilão. Quando cheguei em Corumbá pensei se um dia pintaria aqui e seis anos depois estou fazendo isso, por isso, por mais difícil que seja não da pra parar de fazer as coisias que a gente a gente ama e acredita”.
O graffiti da Anis está localizado no Moinho Cultural, no Porto Geral. O da Crica Monteiro no Espaço de Dança de Corumbá, área central da cidade.
Teexto: Mariana Castelar