A Oficina de Cinema abriu a programação oficial do Festival América do Sul Pantanal (FASP), neste domingo, 29 de abril, no auditório do Instituto Moinho Cultural Sul-Americano. Com a coordenação de Marinete Pinheiro e Gabriel Lima, carga horária de 48 horas, gratuita, a oficina de produção audiovisual propõe a formação de produtores independentes com conhecimentos teóricos e práticos sobre produção audiovisual, com enfoque na produção de curtas, documentários e ficção. A apresentação dos curtas será no Festival América do Sul Pantanal, que vai de 24 a 27 de maio em Corumbá, Ladário, Puerto Suarez e Puerto Quijarro, com realização do Governo de Mato Grosso do Sul e da Prefeitura de Corumbá.
Os 16 participantes receberam as primeiras aulas teóricas durante a manhã de domingo e apresentaram suas propostas de roteiros à tarde. Aulas práticas serão ministradas nos próximos finais de semana. O cururueiro Agripino Magalhães e o poeta Lobivar Matos vão servir como fio condutor de roteiros de curtas que serão montados e finalizados no decorrer deste mês. O conteúdo ministrado será introdução ao documentário, produção audiovisual, narrativas audiovisuais, conceitos de direção, fotografia, som, trilha sonora, edição, montagem e finalização.
A proposta do estudante corumbaense Erivelton Robson da Silva Souza, aluno da Escola Estadual Octacílio Faustino da Silva, traz visibilidade ao poeta corumbaense Lobivar Matos, autor de obras nos anos 30. “Focalizamos o Lobivar Matos em uma oficina de teatro e achei sua história e poesia muito interessantes”, contou. “Também tive contato com o professor de teatro Salim Haqzan, que tem uma publicação e peças sobre o poeta.”
Lobivar Matos publicou dois livros, Areôtorare – poemas bororos, em 1935, e Sarobá, em 1936, e morreu aos 32 anos. Um de seus poemas emblemáticos, que revela o olhar do crítico social diante das mazelas da cidade, deve servir como fio condutor no roteiro de um vídeo experimental: “Quando sinto vontade de ver santos/nunca entro em igreja/Sento-me num banco da praça/Na boquinha da noite/E fico namorando os desgraçados/Encolhidos na escadaria da igreja.”
O cururueiro Agripino Magalhães completa 100 anos dia 8 de junho e será focalizado em um documentário. Vencedor do Prêmio Culturas Populares do Ministério da Cultura, ele é pioneiro em Corumbá na arte de confecção artesanal da viola de cocho, que toca desde os dez anos. O instrumento está registrado desde 2005 como patrimônio imaterial no Livro de Saberes do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional).
Um conto de Maurício de Almeida, vencedor do Prêmio Sesc de Literatura de 2007 e do Prêmio São Paulo de Literatura de 2017, também contribui com um dos roteiros. A ideia veio da produtora cultural e crítica literária Marcelle Ravanelli, impressionada com a obra “Beijando Dentes” do escritor. Outra proposta aprovada surgiu com os estudantes universitários Naudir Ney da Silva, Gabriel Viruez, Amanda Sabino Ferreira e Ênio Araújo, integrantes do curso de Letras da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). “É a história de uma menina que escrevia poesias no quadro negro, no final da aula, mas apagava em seguida porque tinha vergonha, até que um dia foi surpreendida por uma professora que descobriu seu talento”, resumiu Naudir.
Coordenadores da oficina, Marinete Pinheiro e Gabriel Lima ficaram satisfeitos com os primeiros resultados. Marinete é jornalista, escritora, cineasta formada em direção de documentário e atual coordenadora do Museu da Imagem e do Som de Mato Grosso do Sul. Gabriel Lima é produtor audiovisual independente formado pela Academia Livre de Cinema de São Paulo, com especialização em direção e roteiro.
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