Muitos conhecem por aguapé, mas para o pantaneiro é camalote. Essa planta aquática que se curva a lei das secas e cheias que regem o bioma é avistada nos rios sempre seguindo o ritmo imposto pelas águas e, há mais de 10 anos, também em forma de peças artesanais da Asosciação “Mulheres de Fibra”, situado na cidade de Ladário.
As cerca de 10 mulheres que integram o grupo estão recebendo uma Oficina de Design, desde o dia 21 deste mês, dentro da programação do Festival América do Sul Pantanal (FASP) deste ano. Na Sede da Associação de Mulheres de Fibra de Ladário, no bairro Nova Aliança, as artesãs foram estimuladas pelas designers Mary Saldanha e Paula Bueno, do Polca Estúdio, a refletirem sobre todo o processo criativo e de comercialização das peças produzidas a partir da fibra do camalote.
“É uma oficina de desenvolvimento de produto. O trabalho com aguapé a gente já conhecia, mas especificamente o delas não”, disse a designer Mary Saldanha ao explicar que as técnicas utilizadas pelas mulheres da associação ladarense diferem-se das tradicionais feitas pelos índios da etnia Guató.
Uma peculiaridade do trabalho das ladarenses é o crochê. Ao invés das linhas comerciais a base de algodão, elas usam as fibras do aguapé e tecem peças que vão do vestuário à decoração. Inclusive no carnaval de 2019, a madrinha da bateria da escola de samba Vila Mamona trajou-se com uma saia feita especialmente para o momento.
“Vamos aprender, sugar até o último o que pudermos das designers. Nós já fazíamos cestinhas, flores, até mesmo com barbantes e retalhos para diversificar, mas a gente quer fazer coisas diferentes”, revelou a vice-presidente da Associação, Lúcia da Costa Vieira, sobre o anseio de produzir peças com uma proposta única no mercado.
Para isso, está sendo usada muita conversa, reflexão desde o momento da coleta da matéria-prima, preparação, confecção e venda das peças. O saber popular que envolve a fase da lua na colheita da matéria-prima, a quantidade exata de dias para a secagem ao sol, a seleção e manipulação das fibras, até a maneira de tecer e trançar formas oferecem uma série de elementos que poderão integrar a nova coleção de peças das Mulheres de Fibra.
“O nosso desafio aqui é com os produtos criados contar a história de vidas delas, a visão de mundo delas. Aquilo que como consumidores queremos quando vamos ver um produto, queremos quer fez, qual a história daquela peça”, comenta a designer Paula Bueno que nomeou como “temas” essas informações.
Por hora, o mistério ronda a coleção a exemplo dos grandes estilistas internacionais, entretanto o que conseguimos descobrir é que provavelmente, entre as pelas que estão tendo os protótipos elaborados, haverá um colar que promete levantar o look.
A intenção das artesãs e designers é que algumas peças sejam lançadas durante o FASP, reforçando a identidade do grupo de mulheres ao mesmo tempo que ganharão uma importante vitrine para seus produtos.
Para a gerente de atividades artesanais da Fundação da Cultura de Mato Grosso do Sul, Katienka Klein, a oficina corrobora com um dos propósitos norteadores do trabalho realizado pela autarquia estadual.
“Temos a função de fomentar o artesanato sul-mato-grossense de forma competitiva para o Brasil e fora dele. Fizemos um levantamento sobre trabalhos feitos com matérias-primas do Pantanal e conhecemos o trabalho da Associação Mulheres de Fibra que nos trouxeram essa demanda de elaboração de produtos com designs que sejam aceitos de forma mais efetiva no mercado. Produtos com a cara do Pantanal, com a cara do Mato Grosso do Sul”, declarou.
A Oficina de Design com a Associação de Mulheres de Fibra de Ladário segue até o dia 28 de maio e deu o início nas atividades desta edição do Festival América do Sul Pantanal que está acontecendo nas cidades de Corumbá, Ladário e nas bolivianas de Puerto Quijarro e Puerto Suárez.
Texto e foto: Lívia Gaertner