Corumbá (MS) – Participantes da Oficina de Ganzá puderam aprender a confeccionar este instrumento que é utilizado no cururu e siriri. O mestre cururueiro e artesão Sebastião de Souza Brandão esteve na tarde desta quinta-feira (26.05.2022) na sede do Iphan, em Corumbá, durante o16º Festival América do Sul Pantanal, para transmitir seus conhecimentos sobre este instrumento que faz parte do patrimônio imaterial de Corumbá.
Sebastião explicou que esta oficina é muito importante, porque o instrumento ganzá estava meio “escondido”, meio esquecido. “O ganzá estava escondido, mas o ganzá ele é o guia da viola de cocho. Para cantar o cururu, para sair bonito, tem que ter o ganzá. Eu canto o cururu com outras pessoas, mas quando eu canto sozinho só com a viola sem o ganzá, fica muito diferente. Sem o barulho do ganzá na viola, para o siriri, e o cururu, ele não fica completo, o som não fica completo. Se o cara for bom tocador de ganzá, se ele não errar, ninguém erra com a viola. Ele dá o ritmo da viola e do sapateado, da ginga do cururu. E o siriri também. Hoje nós estamos tendo poucas pessoas que tocam o ganzá, então para mim eu estou muito feliz de vim fazer a oficina do ganzá, porque nós precisávamos fazer esta oficina. Vai ter muita gente que vai ter o ganzá, tem criança que se interessa, e se nós temos as oficinas de viola, aí nós temos a de ganzá”.
O mestre Sebastião disse que é fundamental transmitir a forma de fazer o ganzá para outras pessoas. “Eu estando transmitindo para outras pessoas o conhecimento é uma certeza minha que a hora aqui que a velinha apagar eu vou deixar para outras pessoas também, né. Então é uma coisa que vem de geração. Eu acompanhei do meu bisavô, meu pai, e agora eu quero que meus netos também vão acompanhar isso aí. E não só eles, outros, outras pessoas que vão aprendendo. Aqui tem pessoas que já fizeram, que já participaram de várias oficinas de viola. Agora de ganzá, é a primeira vez no Festival”.
Caroline Stephany Rodrigues, acadêmica do curso de Pedagogia em Corumbá, decidiu fazer a oficina porque viu que é uma coisa muito interessante falar do patrimônio imaterial de Corumbá. “É uma vivência que eu posso passar futuramente na escola, vou falar que eu participei da oficina. Sempre eu participo dos Festivais aqui em Corumbá e sempre que eu posso eu coloco minha filha para participar”.
O aposentado Thomas Roziska Filho, mora em Campo Grande mas fez questão de vir para o Fasp e participar da Oficina de Ganzá. Já fiz um curso de viola de cocho e não podia perder esse. É muito legal, gosto demais de fazer esse tipo de instrumento. Eu toco viola de cocho e ganzá. Já faz uns dois anos que eu fiz a oficina de viola de cocho no Fasp, antes da pandemia. Eu faço em casa violinha de chaveiro, faço para dar de presente para os outros. Faço porta-celular com o desenho da viola de cocho. Eu acho muito bacana, muito legal, também ajuda muito e incentiva a ‘segurar’ a cultura do Estado”.
Douglas Alves da Silva, coordenador as oficinas de patrimônio imaterial do Fasp, falou que é importante valorizar tanto o conhecimento tradicional de mestres como o seu Sebastião, que é o mestre tradicional, o mestre cururueiro da região, como salvaguardar um bem que já tem sua proteção, que é o caso da viola de cocho. “Dentro da viola de cocho temos tanto o cururu como o siriri, o modo de fazer a viola de cocho, como tocar, as manifestações artísticas que ela compõe como o cururu, o siriri, o próprio cortejo de São João, e instrumentos que estão ali junto com a viola de cocho como é o ganzá, que hoje está sendo produzido pelo seu Sebastião. São ações que vão valorizando esses bens imateriais, ajudam a salvaguardar e ao mesmo tempo estimulam as novas gerações a receber esse conhecimento e continuar fazendo. Então o seu Sebastião, mestre do conhecimento tradicional, ele é um transmissor desse conhecimento, ele não só demonstra, mas também transmite”.
Texto: Karina Lima
Fotos: Maurício Costa Júnior