Você já imaginou um conto de fadas infantil sendo adaptado para Libras (Língua Brasileira de Sinais)? Foi justamente isso, entre outras coisas, que os participantes da oficina sobre Literatura Surda puderam aprender na tarde de sexta-feira (10) na Casa Dr. Gabi, durante o Festival América do Sul 2023.
A oficina foi ministrada por Alessandra Souza da Cruz Daniel, formada em Letras Libras e pós-graduanda em Libras Inclusão Especial, além de Letras Bacharelado. Foi a primeira vez que uma pessoa surda ministra uma oficina durante o Festival América do Sul.
Alessandra explicou a importância da literatura surda. “Os ouvintes sempre criaram as próprias narrativas, e a literatura surda faz parte desta adaptação com os contos que são adaptados da literatura brasileira para Libras. A gente faz a adaptação dos personagens que, por exemplo, usam em vez da fala, as mãos. Um exemplo é a história da Cinderela. Ela tem uma luva que remete à comunicação da mão dela. Existem outras histórias também. A literatura surda foi criada no Inis (Instituto Nacional dos Surdos do Brasil)”, disse.
Uma das participantes, Alicia Viviana Mendes, escritora, professora, médica e psicóloga, atua sobretudo na área da educação em Corumbá. Alicia não é surda, mas explicou que em sua família tem pessoas com deficiência auditiva, mas para ela, entrar neste mundo da língua de sinais é importante para todo mundo estar integrado e ter uma convivência mais justa e inclusiva.
“Minha intenção é poder adaptar minhas histórias infantis não somente com Braile mas também com Libras. Esta oficina me abriu muito os olhos porque eu também faço poesia. Eu já tinha feito poesia em Libras, mas agora eu entendi a dimensão que isto tem, porque a poesia vai além do alfabeto, além das convenções e é muito importante conhecer a interpretação que a própria comunidade surda dá que não é às vezes a mesma que a gente ouvinte tem. Essa empatia, necessária para a construção dessas pontes de comunicação, são valiosíssimas. Parabéns aos organizadores porque um momento como este é único”.
Diego Mendes Mendonça nasceu na Bolívia, mas lá, segundo ele, era impossível a comunicação e o ensino. Com nove anos, ele se mudou para Corumbá e começou a estudar na escola Caíque, onde conseguiu desenvolver o aprendizado em Libras. Ele interrompeu o curso de Letras Libras na UFGD em 2020 por conta da pandemia, e está considerando voltar a estudar. “Eu adorei, recebi o convite para vir aqui, achei muito legal, gostei porque ela falou muitas coisas sobre vários outros tipos de língua, sobre Libras, então toda a questão sobre literatura eu gosto muito”.
A corumbaense Graciane de Oliveira Vitória é mãe de uma criança surda, a Alice Rafaela, de 7 anos. “Aprendi bastante coisa aqui na oficina, estou aprendendo. A oficina me trouxe uma expectativa melhor, boa, porque aí em casa eu vou aprender a lidar mais um pouquinho com ela, as histórias que eu não sabia que tinha. Eu aprendi mais, para eu passar para ela as histórias que eu não sabia”.
Karina Lima, Ascom FAS 2023
Fotos: Elias Campos
Galeria de imagens disponível no site: https://www.festivalamericadosul.ms.gov.br/oficina-de-literatura-em-libras/