Privilegiada geograficamente por ser uma cidade sul-mato-grossense onde o Brasil faz fronteira com a Bolívia, Corumbá é a terra fértil onde floresce um sentimento, talvez único no Estado, o de pertencer.
Na teoria, pertencimento é aquela percepção que o indivíduo tem de fazer parte de uma comunidade, grupo ou nação, e que muitas vezes está ligada ao reconhecimento que o povo tem ao ver cultura e costumes respeitados.
Historiador, pesquisador, arquiteto e superintendente do Iphan em Mato Grosso do Sul, João Henrique Santos explica o que Corumbá tem de mágico para despertar nas pessoas o sentimento de pertencer.
“Corumbá está no centro da América do Sul, onde todos os povos se encontram, onde todas as línguas se encontram e onde a gente consegue ter como palco das manifestações culturais que aqui ocorrem na música, na dança, no teatro, em todas as segmentos da arte e da cultura da América do Sul. E aqui a gente se reconhece realmente enquanto o sul-mato-grossense, aqui a gente se reconhece enquanto pantaneiro, enquanto fronteiriço, enquanto latinos”, poetiza João.
No dia a dia, você pode chamar de “bairrismo” se quiser, o fato é que não há corumbaense que não defenda com unhas e dentes o que aqui nasce ou cresce.
“Que sentimento eu tenho pela cidade? Ah, orgulho né? Paixão. Um povo acolhedor, muito alegre, que fala com 100% de orgulho que é corumbaense”, descreve o morador Reinaldo Modesto.
Para quem convive com a diversidade cultural, sediar o Festival é uma forma de unir em quatro dias o que Corumbá vive o ano inteiro, e apresentar para o maior número de pessoas uma arte que vai para além dos palcos principais.
“A gente tem que aproveitar não só os shows, como dança, teatro, o máximo possível, porque isso é cultura, enriquecimento cultural, e aqui abrange um pouco mais coisas que a gente não trata no dia-a-dia”, completa Reinaldo.
E é com todo este amor com que a população trata seu lar, que os que vêm de fora também aprendem a gostar daqui, como é o caso do gerente Vitor França, que há seis meses trocou Porto Alegre por Corumbá, a trabalho.
“O que mais me chamou a atenção aqui? Como o povo curte, e a cultura é bem diferente. Vejo aqui um lugar muito bom de ter eventos como Carnaval e agora o Festival América do Sul”, comenta.
Na opinião do gerente, o amor por Corumbá transborda e encontra também o coração de quem veio sem a intenção de ficar. “O povo daqui gosta daqui, até quem não é, quando chega não quer ir embora. Tenho muitos amigos, eu por exemplo, que gosta da cidade e fica”, responde e ainda completa “mesmo com o calor”.
Até quem torce o nariz para uma coisinha ou outra da programação, como o caso da massagista Jane Guadamo, faz questão de prestigiar e incentivar os amigos.
“Eu gostei da programação com algumas ressalvas, mas todo ano eu venho e quando tem visita eu trago, divulgo, incentivo o pessoal a vir porque eu acho que é importante, independente da programação, porque tem coisa que a gente não gosta, o importante é participar, porque isso é para a cidade”, resume.
Paula Maciulevicius e João Pedro Flores, Ascom FAS 2023
Foto: Bruno Rezende