Corumbá (MS) – Palhaço Tomate, interpretado por Victor Ávalos, da Argentina, encantou as crianças com o seu espetáculo “Tomate, puro Tomate”, em que ele faz manipulação de balões e presenteia algumas crianças participantes com os balões utilizados no show. A apresentação fez parte do 16º Festival América do Sul Pantanal, e aconteceu no fim de tarde deste domingo, na Praça Jardim da Independência, em Corumbá.
Antes da apresentação do palhaço Tomate, o Grupo de Dança Nova Generacion, da Escola Santa Cruz, de Puerto Quijarro, apresentou danças folclóricas do carnaval da Bolívia. Logo depois das danças, aconteceu o espetáculo de manipulação de balões que tanto encantou as crianças. Foram aves, animais, espada, peixes, tudo criado por Victor Ávalos, sem necessitar das palavras para se expressar.
“O espetáculo nasceu como muitas coisas na dramaturgia do palhaço, eu tinha necessidade um pouco intelectual, laboral, profissional, de viajar com meu espetáculo para países onde não se fala o espanhol. Então eu desenhei este personagem que não fala, somente faz barulhos. Aqui, em particular no dia de hoje eu peguei uma licença, porque eu falei porque eu estou dominando mais ou menos a língua portuguesa, a galera pode me entender, o público pode me entender, e também porque e um espetáculo da rua, na praça. Quando o espetáculo é no teatro eu somente faço aquele personagem que não fala, que só faz barulhos. Aqui na praça, na rua, você precisa de uma conexão um pouco mais intensa”, diz Victor Ávalos, em entrevista depois do espetáculo.
Ele escolheu trabalhar com balões porque quando começou, em 1992, há trinta anos atrás, tinha uma explosão bastante grande em sua cidade, Buenos Aires, na Argentina, de espetáculos de rua, todos malabaristas, monociclo, mas ninguém queria fazer balões, porque balões os artistas pensava que seria para festa de crianças. “Então eu pensei em fazer isto que ninguém quer fazer. Eu intuía, eu percebia que teria que me especializar e me diferenciar também. Na verdade não tem muitos espetáculos de balões no mundo. Eu já apresentei este espetáculo em 26 países, fui quatro vezes, na China, Dubai, quase toda a Europa, quase toda a América Latina, e acho que em umas 250 cidades do Brasil. E por isso fiz a escolha de fazer um espetáculo sem falar e fazer espetáculo com balões, que ninguém queria pegar, eu peguei. Então essa foi a recompensa por ter saído de minha zona de conforto, de sair das coisas mais certas, mais fáceis e ir por este caminho que era um pouco mais difícil, mas afinal, foi muito legal, eu estou feliz da escolha que eu fiz”.
“Para mim, ser palhaço é uma profissão como qualquer outra, mas também tem aquela coisa de ser uma profissão que tem uma veia artística. E também tem uma coisa que tem a ver com a boemia e com uma certa vida subversiva, de viver um pouco pelas fronteiras da sociedade. Os palhaços, nos circos, sobretudo sempre foram nômades, indocumentados, e muitas vezes perseguidos também, porque todos os temas tabus que ninguém quer tocar os palhaços tocam e brincam com eles. O palhaço é politicamente incorreto, porque é uma caricatura de um ser humano em nossa sociedade, o palhaço, a palhaça também, mas é naquela incorreção política que ele estabelece as condições para ter uma conversação verdadeira acerca dos problemas que a gente tem como sociedade. Quando ninguém falava de drogas, os comediantes, os palhaços falavam de drogas; quando ninguém falava de interrupção de gravidez, os palhaços, os comediantes falavam de aborto; então dessa maneira instalaram a conversação, instalaram a polêmica na sociedade. É um valor, mais do que fazer rir, fazer pensar. Essa é a missão do palhaço. É refletir sobre nossa condição na sociedade”.
O artista curtiu bastante sua participação no Festival América do Sul Pantanal e se emocionou ao final de uma apresentação na Bolívia. “Eu cheguei, estive um dia livre, aproveitei o Festival bastante para assistir a outros espetáculos. Então assisti ao espetáculo de um colega carioca, Guga Morales, grande malabarista e cômico também, depois fui a Puerto Suárez, apresentei lá. No segundo dia fiz em Puerto Quijarro, foi emocionante, quando eu acabei, quando eu estava tirando a maquiagem no palco, as crianças foram chegando cada vez mais perto, e aquelas crianças todas, umas sessenta crianças me abraçaram. E eu chorava e algumas crianças também choravam de emoção. Foi muito legal o final do espetáculo de ontem. E na Praça também foi uma emoção muito linda. Foi muita risada, gargalhada, foi muito divertida, muito engraçada a apresentação. Para mim, pelo menos, a combinação perfeita é conseguir fazer rir, fazer pensar e fazer emocionar”.
Marcos Henrique, bombeiro militar, veio de Alto Araguaia, Mato Grosso, para prestigiar o Festival. “Faz tempo que eu não voltava pra Corumbá, eu vim para o Festival e gostei bastante. O palhaço é muito bom, deu para rir bastante, deu para sentir uma coisa que ele falou que é verdade, faz dois anos que não tem aglomeração de rua para ver, uma coisa tão simples que é tão legal pra gente”.
Robert de Arruda, de Corumbá, atendente de lanchonete, veio com a família, as filhas, as sobrinhas, a irmã e a cunhada. “Vim nesse espetáculo porque é de circo, é lúdico e as crianças adoraram o espetáculo, eu também adorei o artista, o palhaço Tomate divertiu muito as pessoas e traz um benefício muito grande cultural pra gente. Essa realidade que a gente viveu de dois anos de pandemia, e a gente voltando agora com os eventos, trazendo essa variedade da América do Sul. Foi muito bom”.
Texto: Karina Lima
Fotos: Vaca Azul