O cenário desbanca qualquer “Fashion Week”. Quem, além do Pantanal Fashion, teria o Rio Paraguai de fundo para um desfile? Na passarela do Festival América do Sul 2023, os protagonistas são as cores da moda autoral de MS, os grafismos indígenas e os traços da cultura boliviana.
No pôr do sol do Porto Geral, os olhos do público se voltam aos modelos – a maioria deles da região de Corumbá e Ladário – e às histórias por trás de cada coleção assinada.
Com o celular nas mãos e os olhos na passarela, a professora Tatiana Souza aproveitava o presente e registrava para que no futuro tivesse a lembrança do desfile da filha, Mariana.
“Ela é daqui de Corumbá sim, é a primeira vez que ela desfila. Eu tô muito alegre, e feliz. Olha, desculpe, eu tenho que lá tirar fotos”, diz a mãe.
O desfile começou com a coleção de verão 2024 da Roupável, assinada pela estilista Nair Gavilan, que traz a história do tereré nas peças mesclando ancestralidade feminina, sustentabilidade e tecidos naturais.
Em seguida, entrou na passarela a marca Touché, de Fábio Castro, que nesta coleção homenageia natureza, celebração da individualidade, além de trazer música, literatura, cinema e expressões artísticas para as estampas.
Corumbaense de coração, isso porque já mora há décadas na cidade pantaneira e até sotaque tem, dona Ester Leite estava encantada pelo desfile. “Minha sobrinha Maria Eduarda está aí. Eu amo que Corumbá é uma terra rica dessas coisas, de shows, desse festival, eventos assim que são maravilhosos, como eu amo este Pantanal”, elogia apontando para o Rio Paraguai.
Arte Nativa é o nome que levam as peças apresentadas pela estilista Emília Leal. Com uma modelagem contemporânea, vestidos leves tomaram a passarela com desenhos de origem tribal e paleta de cores autoral.
“É muito importante este incentivo do Festival América do Sul. Somos várias marcas, cada uma com o seu conceito e este fomento nos incentiva a pesquisar mais sobre sustentabilidade e projeta o coletivo de moda autoral de Mato Grosso do Sul”, descreve Emília.
Ainda passaram pelo desfile dança e moda FNK, de Edson Clair, mostrando roupas que dançam e convidam as pessoas para o movimento, liberdade e versatilidade, além da estilista boliviana Claudia Pérez, que trouxe para o Festival América do Sul uma coleção feita com lenços e graças de seda.
Moda indígena
A luta também demarcou a passarela no Pantanal Fashion com estilistas, modelos, apresentadores e DJs indígenas.
Natielly Terena foi uma das estilistas a apresentar a cultura indígena terena, mas pelas mãos do pai.
A jovem que trabalha com moda desde 2015 foi representada por Sidney Terena, já que estava fazendo o Enem.
“Foi a primeira vez que eu conduzi o desfile. Assim, eu já participei, já ajudei, mas com ela sempre à frente. Só que dessa vez, ela precisava estudar e se concentrar. E eu pensei que não fosse tão difícil, mas tive bastante ajuda e conseguimos desenvolver o trabalho”, conta.
Para Sidney, o trabalho da filha é o de mostrar a realidade indígena através das roupas e da pintura.
“O próprio indígena que vem trazendo a sua arte para o festival de uns anos para cá. Aqui você vai ver a representação de cada um dos oito povos que nós temos no Estado. A importância é essa, a de mostrar a nossa realidade, e vocês ouvirem de nós”, finalizou.
Paula Maciulevicius, Ascom FAS 2023
Fotos: Elias Campos
Galeria de imagens disponível no site: https://www.festivalamericadosul.ms.gov.br/desfile-de-moda-autoral/