Corumbá (MS) – Um show de pulsações, mistura de ritmos da cultura afro-brasileira e sul-coreana, melodias marcantes cantadas ao vivo e movimentos contemporâneos precisos e expressivos. O espetáculo Lub Dub, concebido especialmente para o Balé Castro Alves, trouxe para o Festival América do Sul Pantanal neste fim de tarde de sexta-feira (15 de novembro) a força da vida e o som percussivo das batidas do coração.
Com coreografia e trilha sonora original do dançarino, coreógrafo, compositor e ex-rapper sul-coreano Jae Duk Kim, Lub Dub faz referência aos dois primeiros (ou principais) sons do coração, segundo a denominação da medicina (a bolha produzida pela abertura e fechamento das válvulas que permitem a passagem do sangue). O próprio Jae Duk Kim assina a trilha, que tem como base instrumentos percussivos das culturas oriental e ocidental, efeitos incidentais, canto e sons ao vivo.
Atenta à vibração, a plateia acompanhou tudo quietinha, quase que com a respiração suspensa. “Quando a gente se apresenta, as percepções são variadas, mas tem sempre um cerne: a vida. Este espetáculo representa a luta para viver, a pulsação é uma briga para se manter vivo, amando. Foi apresentado sempre em teatros fechados; assim, numa praça, é a segunda vez. As pessoas estavam quietinhas observando”, afirmou em entrevista o diretor da Companhia, Wanderley Meira.
As bailarinas intérpretes Solange Locatelli, Monica Nascimento e Adriana Bamberg fazem parte do espetáculo desde sua montagem, em 2017, e disseram que tudo levou apenas três semanas para ser montado. “Foi muito intenso, a gente ensaiava só com metrônomo, não havia música. O coreógrafo criava em cima do ritmo que ele queria, a composição inteira do espetáculo foi assim. A execução dos movimentos ia trazendo a dramaturgia”.
As dificuldades de montagem foram intensificadas devido às diferenças culturais entre os integrantes da companhia brasileira e o coreógrafo e compositor sul-coreano. “No começo, ele não deu muito espaço para as mulheres, devido à cultura de seu país. Para isso, o diretor teve que intervir. Até a forma de se relacionar foi um pouco difícil, mas depois tudo foi fluindo. Nós somos privilegiadas por podermos viver somente da dança, nos dedicamos integralmente a ela. Aqui em Corumbá sentimos muito calor, é muito quente. O público esteve muito concentrado, ficamos surpresos, por ser em uma praça e ter muita criança. Foi tudo muito mágico”.
Segundo o diretor, Wanderley Meira, Lub Dub é um dos mais importantes espetáculos do repertório da Companhia Pública de Dança Contemporânea fundada em 1981, vinculada à Secretaria de Cultura do Governo do Estado da Bahia (SecultBA). Apresentá-lo em Corumbá foi uma alegria muito grande e uma oportunidade de levar a arte do Balé Castro Alves para outros públicos. “A gente ficou feliz em vir para cá. Somente em festivais como este a gente consegue dialogar com o restante do país, pois é muito difícil deslocar toda a estrutura para apresentações fora de Salvador”.
Na plateia, a perita da Polícia Civil Gisa Subtil, que veio de Aquidauana especialmente para o Fasp, selecionou o espetáculo Lub Dub como um dos que ela fez questão de assistir. “Vi hoje de manhã a programação do Festival e selecionei, porque não dá para ver tudo. Este espetáculo, a própria sinopse dá vontade de estar aqui. Este espetáculo trouxe todos os sons do coração. Nas várias emoções que ele passou pra gente percebemos raiva, ódio, amor, tristeza e felicidade. Sempre que posso eu venho ao Festival, é uma oportunidade única de estar em contato com outras culturas diferentes da nossa, que é riquíssima, e com a natureza”.
Realizado com investimento público da Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul e patrocínio da Energisa, Vale, Caixa Econômica Federal e Governo Federal, o 15º Festival América do Sul Pantanal (Fasp) acontece entre os dias 14 e 17 de novembro. A programação foi pensada para agradar a todos os gostos. E claro, tudo com entrada franca. Mais informações sobre o evento podem ser obtidas na nossa página (www.fundacaodecultura.ms.gov.br) ou pelo telefone 3316-9109.
Texto: Karina Lima
Fotos: Saul Schramm