“Trabalhadores e trabalhadoras, somos nós que construímos a revolução”, bradou o ator e diretor Fernando Cruz, do Teatro Imaginário Maracangalha e um dos organizadores do Sarobá, em meio ao cortejo que já é parte tradicional da festa que aconteceu na noite de quarta-feira. Ocupando ruas com a proposta de fomentar o diálogo e a recuperação da memória de bares e outros espaços de boêmia, o Sarobá comemorou 15 anos nas ruas de Corumbá e o lugar escolhido para a realização não poderia ter sido melhor.
Em outro momento do cortejo, os participantes ecoaram “Artigo 5º da Constituição”, após palavras de protesto entoadas por Fernando e sua trupe. O artigo em questão trata da igualdade de todos perante à lei. “Nossos corpos têm mais energia do que se pensa, eles existem para transformar. Desobedeça”, completaram. Em um coro que muito se assemelha ao do teatro clássico, a trupe reforçou a força da união e a beleza de uma manifestação genuína e cheia de força.
“Hoje nós estamos aqui onde era o Sarobá, era nesse bairro que ele acontecia”, explica Fernando. No encontro das ruas Ladário e General Rondon, o público teve contato com teatro, performances, música e intervenções culturais. Para Fernando, em meio a todas as expressões culturais que se reuniram para a comemoração, é preciso se lembrar que o riso, a festa e a alegria são elementos revolucionários, que dão força aos corpos que querem transformar o mundo.
A conexão entre o Sarobá e o Festival América do Sul Pantanal é ainda mais em 2022, uma vez que um dos homenageados é o autor Lobivar Matos, poeta nascido em Corumbá e autor do livro que dá nome à festa. “A obra do Lobivar nos mostra esse lugar de encontro e foi o motor para que nós começássemos a organizar essa festa, que na verdade, acontece independentemente de nós”, ressalta.
Foto: Maurício Costa Jr.
TEATRO E MÚSICA
O público presente foi presenteado com a peça: ‘Lobivar, o menino que nasceu livro’, do Grupo de Experimentos e Truques Teatrais. O espetáculo tem como objetivo retratar a trajetória do poeta corumbaense e um dos homenageados do FASP 2022.
Segundo o diretor e ator Salim Haqzan, nessa volta do Festival após dois anos e que homenageia o Centenário da Semana de Arte Moderna, é muito significativo apresentar a vida do poeta. “Esse ano, 75 anos após a morte de Lobivar, nosso modernista, esse brasileito a frente de seu tempo, com uma visão futurista incrível, não poderia ficar de fora. Sempre denunciando, sempre contra os poderosos, seus poemas de 90 anos atrás até hoje tem uma atualidade impressionante. Sempre foi uma pessoa muito contundente”, comenta.
Composto por 9 atores e 2 músicos, o espetáculo é apresentado seguindo uma cronologia de 1913 até 1947, ano da morte precoce de Lobivar. “Nosso grupo, desde 2015 só trabalha com poemas do Lobivar, nos aprofundamos muito nesses últimos 7 anos na obra dele. Sempre estamos falando sobre e tentando transmitir para que as pessoas possam conhecer cada vez mais sobre esse grande modernista, que morreu muito cedo”, conclui Salim.
Foto: Muriel Xavier
A programação da noite também foi composta por apresentações musicais. Com o retorno do Festival após dois anos, a presença do público foi fundamental para os artistas. “É uma satisfação enorme estar de volta, em um momento tão importante para a cidade, ver as pessoas reunidas nesse espaço, felizes e se divertindo. Para nós artistas, sentir, ver as pessoas é muito importante. A população precisa muito desses momentos, precisa de cultura e o Festival traz isso”, comenta o cantor Alex Silveira, um dos shows da noite.
Mais tarde, quatro jovens subiram ao palco e, em uma apresentação rápida, mostraram ao público que uma boa interpretação faz toda a diferença. O repertório reuniu Criolo, Glória Groove e Elza Soares e o público acompanhou a apresentação com as canções na ponta da língua. “Estamos em atividade desde 2015, são sete anos e sempre participamos da cena cultural de Corumbá”, aponta Rah Conde, uma das vocalistas e percussionista da banda As Malungas.
Um dos pontos fortes do grupo é a capacidade de entregar boas interpretações de canções difíceis como “A Mulher do Fim do Mundo”, de Elza Soares. “Ela é pra mim uma das grandes intérpretes brasileiras e eu sempre tento trazer um pouco da Elza em tudo que eu faço. É uma honra poder cantar uma canção forte como essa para esse público tão querido aqui de Corumbá”, argumenta.
Estiveram presentes nomes conhecidos da cena cultural campo-grandense como Rockers SoundSystem e também muitos artistas corumbaenses como Rah Conde, que também canta com as Malungas, a cia. Maria Mole, entre outros.
Foto: Maurício Costa Jr.
Assessoria de comunicação FASP 2022
Texto: Bianka Macário/ Thiago Andrade
Foto capa: Vaca Azul